Sobre o sagrado nipónico, escreverá «Duas religiões, principalmente, infiltram-se, pelas suas crenças, na alma japonesa: o shintoísmo, nativo, e o buddhismo, importado da China, por via da Coreia, — ambas com os seus templos. Os deuses adoram-se nos templos shintoísticos, O’-Myra; os budhas nos templos buddhisticos, O’-Tera. Estas religiões completam-se, pelas influências que exercem no íntimo da alma nipónica».
Pouco conhecido no Ocidente, o Shintoísmo, Kannagara, o caminho dos espíritos (Kami), aflora num dos seus registos histórico-mitológicos mais antigos, do séc. VIII, o Kojiki, onde se descreve o surgimento de formas individualizadas a partir da diferenciação polar centrífuga e centrípeta do Infinito.
Tendo como objectivo uma consciência pura, preconiza a purificação do corpo, ambiente, coração e alma (mitama), usando em especial o ritual, o banho frio (misogi), o sal (tal nas lutas de sumo), a dieta, a postura direita, as caminhadas e peregrinações, a vivência da montanha, a aquietação mental e a unificação anímica dos opostos e a oração (norito), a fim de que o ser humano se torne "makoto", isto, seja ele próprio, sincera e plenamente...
O Imperador do Japão, como símbolo da humanidade perfeita, como descendente da divindade solar, Amaterasu oho mi kami, possuiu os três tesouros sagrados que esta lhe passou: a espada, a jóia e o espelho da verdade e da transparência.
Wenceslau de Morais apreciará muito os "tera", templos budistas, ou os "Jinja", os santuários shintoístas destinados ao culto dos Kami, os espíritos e manifestações da Divindade, locais que tão profundamente invocam e manifestam o fluxo unitivo entre os opostos, seja céu e terra, visível e invisível, natureza e humanidade, na maior simplicidade e harmonia...
Wenceslau, nos seus muitos escritos, elogiará a vida alegre e pura que a religiosidade e tradição shintoísta permitem: «Feliz gente, muito feliz!... Feliz gente, que passa a vida em comunhão com os espíritos superiores que regem os destinos do Nippon; sem flagelar-se, sem penitenciar-se, porque as suas crenças não comportam mortificações
e penitências».
Os vários livros de Wenceslau de Morais (com uma mostra significativa na fotografia) continuam actuais, pois vibram na perenidade da beleza e da sacralidade do Japão eterno...
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